quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chegou a "adultice"


Andava eu no 12º ano, estava na aula de psicologia e o professor pediu-nos para nos pormos de pé nas cadeiras. Depois de um discurso sobre adolescência disse-nos para descermos e isso seria a passagem para a idade adulta. Eu e a Rute, uma das duas pessoas com quem me dei durante um ano inteiro num colégio privado, continuamos de pé enquanto toda a turma desceu. Sem perceberm muito bem porque não tínhamos descido respondemos "Recusamo-nos a crescer!"
O professor riu-se e fez-nos uma vénia.

Foi há 9 anos e assim me mantive, recusando-me a crescer e a comportar-me de acordo com o que a sociedade espera dos "adultos". Quando arranjei o meu primeiro trabalho "sério", dizia-me que tinha de mudar o guarda roupa, como se o que levasse vestida fosse interferir na eficácia daquilo que fazia. E já agora começar a pensar em casar, ter filhos, fazer isto e aquilo porque já teria idade...
Caguei para as conversas de treta e sempre fiz o que me dava na mona sem pensar se era coisa de adulta ou não. Desde que não faltasse ao respeito a mim própria e aos outros.
A minha familia foi-se acostumando à ideia de que eu não nasci para ser "carneirista" mas sim um "cão raivoso". A única exigência a que cedi foi ter ido para a Universidade, coisa que não fazia bem parte dos meus planos. De resto, tenho vivido sem recalcar a, espero que, eterna criança/adolescente que vive aqui dentro.

Esta semana ao chegar a casa, onde não vive mais ninguém, toca o telefone fixo e do outro lado pedem para falar com a Dra. Cassilda. Foram segundos de profunda estranheza "Ok, tenho uma casa só para mim, um telefone fixo e tratam-me por dra. O que é esta merda?"
Passei a semana a trabalhar e a estudar e só parei para dormir e comer. Quis estar com pessoas que se deitaram à hora que acordei para trabalhar. Quero ir a outras cidades ver os meus amigos e não posso porque tenho de trabalhar e aproveitar as restantes horas para estudar e ainda arranjar um tempinho para fazer as tarefas domésticas.
As minhas conversas com outras pessoas foram à base de questões sociais e politicas.
Recusei-me a alinhar nos blind dates que me arranjara porque já experienciado o suficiente para perceber quando é preciso estar sozinha.
Mais que nunca tenho a preocupação de controlar os meus gastos para no final do mês ter dinheiro para pagar as contas.

Merda, esta semana cresci e não dei conta. E agora?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

E por quanto tempo somos felizes?


"E: por quanto tempo somos felizes? Usando o meu bem testado e reproduzível modelo de tirar sapatos apertados, não posso afirmar que tenha sido feliz durante dez minutos depois de os descalçar. Talvez aqueles poucos segundos, seguidos de uma reflexão em forma de – ah, bom, e também, malditos sapatos apertados! E mais um par de segundos… (...)"

- The Dimension of the Present Moment and Other Essays, por Miroslav Holub, tradução de Manuel Portela.

Estreia dia 21 de Janeiro na Casa das Artes, em Coimbra
mais info aqui

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

a falta de respeito por quem respeita os animais



É verdade, existe! E não é pouca! Acontece todo o "santo" dia, consciente ou inconscientemente. Por ignorância inocente ou ignorância persistente.

Lembro-me de quando deixei de comer carne. Era fácil comer na rua. Havia peixe, lacticínios e outras coisas de origem animal a que nos habituamos a ser mega-dependentes, nós humanos - a espécie superior, os dependentes.
Então pensei que não comer carne mas comer peixe era um bocado incoerente e até hipócrita e lá comecei a deixar o peixe (que tanto me doeu na alma, mas não tanto quanto quando pensava no processo até me chegar ao prato).
Mais tarde, um tanto satisfeita por não comer animais mortos, percebi que não os matava mas explorava e lá começou a longa e dura caminhada, que perdura, em deixar os derivados. Não foi dificil, confesso, até chegar ao queijo. Depois de várias tentativas e recaídas, é desta.

Ao longo de todo este tempo ouvi comentários dos mais idiotas e trogloditas que se pode imaginar. Piadas sem piada que mostram bastante o nível de ignorância de quem as faz. Ao pé das piadas sobre homossexualidade, as piadas sobre a "moda", "mania", "fase" ou radicalismo de quem não quer, pelas mais variadas razões, incluir animais na sua alimentação, são bem mais retrógradas.
Quando sei que é só piada fácil, nem levo a mal. E sou a primeira a fazer piadas - uso uma t-shirt a dizer vagitarian. Quando é piada por incomodo por haver quem pise os calos, já me incomoda um bocadinho. Quando é por pura ignorância e falta de vontade de sair dela já sinto pena e ao mesmo tempo vontade de enfiar um par de estalos.

Perdi a conta das vezes que, quando sem saber muito bem quais seriam as minhas alternativas sempre que comia fora de casa, perguntava o que havia sem ser carne ou peixe e respondiam-me "Frango ou atum". No inicio remetia-me ao silêncio mas depois achei que era meu dever informar as pessoas que frango é carne e atum é um peixe e nenhum deles aparece embalado por geração espontânea.

Quantas vezes, ao pedir um cachorro sem salsicha olharam-me como se estivesse a pedir que me pusessem nacos de vidros em vez da salsicha?

Quantas vezes ao perguntar se na sopa havia banha de porco ou caldos knorr, responderam-me "então como é que se faz sopa?"

Quantas vezes, e até bem pouco tempo, quando pedia uma sandes só de queijo diziam-me que só havia mista mas podiam tirar o fiambre.

Quantas vezes deixo de ir a X sítios por não haver uma merda de uma garrafa de azeite para por na torrada em vez de manteiga.

Quantas vezes, ao recusar-me comer isto ou aquilo por haver pedaços de carne ou peixe (animais mortos, no fundo) sugeriram-me para "por para o lado"?

Agora, como se já não bastasse o esforço que faço em não comer queijo ainda tenho que levar com a estupidez alheia quando ao fim de 10 perguntas não peço nada por não terem nada para oferecer e ainda ficam chateados/as.

Por todo o lado vejo pratos e bocas cheias de animais, sei o que passaram desde o dia em que nasceram até se tornaram num rolo de comida e saliva. É assim que eu vejo as coisas. Todos os dias. E doí, oh se doí! E não quero fazer parte disso mas não obrigo ninguém a agir como eu. Apesar de saber que é urgente, cada um sabe de quanto tempo precisa até lá chegar, como eu precisei e tenho precisado do meu.

Agora, não olhem para mim como se fosse uma extra-terrestre ou uma criminosa...não me parece que o crime esteja a ser cometido deste lado.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ovos e carne contaminada de passeio pela Europa.


A exploração animal está por todo lado. Por exploração entenda-se, também, dependência do ser humano em relação aos animais-não humanos. Já mais de metade do mundo sabe que esta dependência não se justifica, falta apenas começar a criar outros hábitos.

Eu defendo a abolição de substâncias de origem animal na alimentação dos humanos. Antes de mais por ser demasiado cruel e desrespeitadora mas também por ser prescindível e até pouco saudável.
A verdade é que infelizmente muitas vezes não se sabe de que se alimenta o animal, que medicamentos toma, que doenças desenvolve ou o que é transmissível ao ser humano.
Os criadores de gado, aves, etc, obviamente têm em vista o lucro. Sim, o lucro. Não querem saber se o que vai parar ao prato é de qualidade ou seguro. Há que garantir sim que vai haver dinheiro a entrar. Quanto mais "inchado" estiver o animal, mais rende, mais dinheiro dá. E para "incha-lo" vale tudo. Depois acontece isto (ver aqui) muitas mais vezes do que aquelas que saem para praça pública. Desta vez sabe-se. Doutras vezes comeu-se e calou-se.

Aqui está o mote e informação, agora usem-nos como acharem melhor.

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sábado, 8 de janeiro de 2011

Suspirar de Alivio

Adormeci com a triste noticia da morte de Carlos Castro (ver aqui). O meu inconsciente deu as voltas ao nome do senhor e sonhei que tinha sido Carlos do Carmo. Angustiada percebi que nunca iria ter oportunidade de ver estes dois "monstros" ao vivo.
Acordei... e suspirei de alivio.

Acredito que o estado de tristeza moderado e um plano de leitura pessoal pode contribuir muito para um crescimento e sobretudo para conhecer e realmente ser leitor de muitos livros considerados por aquelas edições stressantes( 1001 livros/ filmes que tem que...antes de morrer)incontornáveis. A tentar reler o "Noites brancas" apercebi-me que o meu estado de alegria ou pelo menos "não tristeza" não se coadunava com aquilo que já me fez tanto sentido. Ipsis verbis para o "livro do desassossego" e para tantos outros. Isto corrobora a ideia de que tal como o humor influencia cognições a ele adequadas, também nos orienta a procurar algo que sublime ou pelo menos conforte a tristeza ou os estados mais "negativos". Por outro lado, também me faz pensar acerca dos níveis de análise que se tem de acordo com as experiências objectivas e subjectivas. Será possível entender e empatizar com um livro ou poema se não se tiver sentido pelo menos um pouco daquilo que é expresso? A voz do escritor nunca toca da mesma forma, mas será que não há pontos nucleares que desperta em todos de forma similar? Fico sempre um pouco céptica quando ouço alguém cuja análise geral das coisas é a meu ver bastante superficial a dizer que " fernando pessoa ou florbela espanca são brutais", mas talvez esse pseudo elitismo decorra de em alturas de tristeza ter sentido aquela coisa pueril de "isto que está escrito tem mesmo a ver com o que sinto, é mesmo para mim", sendo portanto único, pessoal e intransmissível quando na realidade não o é. Já tive envolvida em muitas conversas sobre livros, muitas delas carregadas de algum snobismo que a minha paixão por alguns autores não me deixou ver o quão pseudo estava a ser a conversa, como se gostar de X ou Y autor fosse um aspecto identitário tão forte como o carácter ou a personalidade. Como tudo, são gostos que podem aproximar as pessoas numa conversa, criar afinidades mas não criar uma comunhão digna de clube de leitura de jane austen":) Na mesma linha de pensamento é por vezes angustiante ver críticas de livros tão faustosas e impenetráveis que tem o efeito contraproducente de não instigar a leitura. Isto tudo para dizer que cada vez mais olho para os livros como algo pessoal, para recomendar ou serem recomendados e cativar a cada um de uma forma especial e distinta, bastando um" gostei muito" pois se repararmos (o bookaminute dá uma ajuda a esta conclusão:)o enredo de um romance pode ser resumido em poucas linhas, sendo a forma como é contada a história que prende e isso é complexo de discutir.
Umberto Eco no livro " A passo de caranguejo"( colectânea de artigos escritos entre 2000 e 2005) faz uma série de reflexões sobre tópicos que apesar de amplamente falados e discutidos, revelam-se complexos de aprofundar e articular entre si. Foi neste livro que encontrei uma abordagem interessante da guerra e da paz( propícias para esta altura em que há artigos sobre a vida de tolstoi por todo o lado). Este conceito permaneceu inalterado desde os gregos até à guerra fria, altura em que a designada paleoguerra( desenrolava-se entre dois contendentes que podiam ser facilmente identificados e localizados) deu lugar à neoguerra cuja definição é bem mais complexa envolvendo paleoguerras marginais, dfificuldade em identificar o inimigo, não frontalidade decorrente do capitalismo multinacional que lucra tendo frequentemente interesse em ambas as barricadas. Tomando como exemplo a guerra do golfo, Eco desenvolve toda uma concepção que finalmente sintetiza anos de telejornais, reportagens e entrevistas com informação fragmentada, selectiva e facciosa que se desenrola mais ardentemente desde o onze de setembro. Como é difícil de sintetizar aconselho aqui a leitura porque envolve-nos mesmo, tendo pelo meio umas críticas ao senhor berlusconi que são sempre bem vindas( ou será que já que também é necessário pagar por elas tal como vai ser necessário pagar para ver a cidade de roma). Não deixa de ser curioso que Eco seja um fanático pelas designadas "ciencias falsas" possuindo uma biblioteca respeitável em torno do que não é verosimil, provável, assente em superstição popular, pois ao ler sobre as designadas neoguerras tive aquela sensação de incredulidade que teria com a alquimia, aliada a alguma tristeza pela nossa condição que ciclicamente, apenas com roupas novas, dá um pouco de razão a Hobbes.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

o mundo é um lugar perigoso

"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."

Albert Einstein

(e ainda houve quem o tomasse por louco)


domingo, 2 de janeiro de 2011

Crise? Qual Crise?



Acabamos o ano a falar de cortes. Corta no salário, corta na bolsa de estudo, corta na saúde, corta na educação, corta da cultura, corta nos subsídios, nos apoios, nisto e naquilo. Começamos o ano a falar de aumentos. Aumento do pão, do combustível, do IVA, dos transportes, das portagens, disto e daquilo. Aumenta tudo, excepto o que é para cortar. Que bonito, Portugal, sim senhor!

A comunicação social sente-se no dever de alertar os portugueses e portuguesas de como será dificil o ano que agora começou. É então que decide fazer (mais uma!) a bela da reportagem, sobre uma familia que vai ver os seus salários reduzidos. Família, atenção, tradicional, que as outras ainda não são para se mostrar.
Então como será o ano dificil da família tradicional que terá os rendimentos reduzidos?
Angustiada, a mãe explica que terá de tirar os miudos do colégio e po-los numa escola pública. Que já não poderão ter mais que uma actividade extra-curricular e que, por mais que lhe custe, terá de deixar de ir todas as semanas ao cabeleireiro, entre outros luxos e futilidades de quem se acostumou a viver acima das possibilidades do país.

Expostas estas dificuldades pelas quais o povo português irá passar, ninguém diria que estamos em crise, ou que na verdade não conseguimos sair dela há 800 anos.
Ninguém diria que se calhar há quem tenha de tirar os filhos não do colégio privado mas da escola, ponto. Nem que, já exista, quem tenha de desistir de estudar, de todo.
Ninguém diria que há quem tenha de contar trocos no fim do mês para pagar a conta da luz ou quem nunca tenha tido acesso a alguma actividade extra-curricular, não gratuita. Ninguém diria que possa haver (como eu) quem corte o cabelo em casa ou quem (sobre)viva com 500 euros por mês, e todas aquelas outras coisas que já sabemos e se não sabemos já, vamos senti-las e saber em breve.

Mais uma "reportagem-afronta" onde se percebe que a pobreza maior, que assola o país, é mesmo a de espírito.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

voltar à infância

Tive uma infância feliz. Não consigo imagina-la mais feliz e tranquila do que foi. Cresci na rua a jogar à bola, às escondidas, às apanhadas, à porrada com os vizinhos, de pé descalço e roupa suja. Bati a portas e fugi, subi árvores, trouxe para casa animais abandonados, não parti pernas nem braços mas nódoas negras, arranhadelas e membros torcidos não me faltaram. Andei de bicicleta na rua, de skate, construí carrinhos de esfera, brinquei na terra, joguei ao peão, andei de motas com caixaria e à boleia, e desde que me lembro de ser gente passei os dias de Verão na praia e as noites no jardim municipal. Tinha os amigos de escola e os amigos de Verão.
As crianças de hoje não têm esta sorte. Os pais vivem assombrados com o perigo da pedófilia, dos raptos, dos assaltos, do caos que se tornaram as ruas cheias de carros. Desapareceram os convívios nos adros das igrejas, nos jardins e nas praças.
Por volta dos onze anos já ia para a praia sozinha. Saia de casa logo depois do almoço e até à praia ia-mos encontrando pelo caminho. Éramos muitos. Passávamos a tarde inteira dentro de água. Não havia fome nem pele enrugada que nos tirasse de lá. Inventávamos jogos e desafiavamos as marés. Não havia mais nada para além deste mundo.
Hoje não sei do paradeiro de mais de metade dos meus amigos de Verão. Eram boas pessoas, certamente continuam a ser.
Hoje vim trabalhar para o café com vista "minha" praia, completamente mudada, transformada numa coisa pseudo-burguesa, que então deixei de frequentar. Mas nem assim me roubaram as recordações. Continuo a ver-nos a saltar de uma prancha que já não existe, a desfiar as nossas forças nadando até umas pedras enormes e distantes a que chamávamos de Baixa Grande e Baixa Pequena, destruídas pelas obras, vejo-nos a ver quem fica mais tempo debaixo de água, a atirar objectos para o fundo e ver quem os vai buscar primeiro a apaixonar-nos pelos miúdos e miúdas novas que vêm cá passar o verão.
Os tempos são outros. Bastante diferentes. Crescer é uma seca. Mas ainda assim, nem um mar sobressaltado como hoje leva daqui a memória da tranquilidade deste lugar.



Piscinas Municipais da Ribeira Grande - antigas Poças

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

o auge do dia

Há dias que correm mal desde o acordar ao deitar. Não são poucos, são por fases. Quando vêm, nunca vêm sozinhos. Hás vezes são só uns três dias, outras vezes semanas, às vezes até meses! Porra, sim, meses! Hoje foi um desses dias, espero que isolado. Vou aprendendo a contrariar a má sorte! É uma daquelas coisas que a vida obriga! Não ignoro as coisas à minha volta mas tento, no meio do caos, fazer alguma coisa produtiva (nem que seja fazer a cama). No entanto é triste quando chegamos às 23.45 e percebo que o auge do dia foram os minutos em que estive a ler alguns capítulos da constituição que, confesso, fizeram-me rir.

"Artigo 58º
(direito ao trabalho)

1. Todos têm direito ao trabalho."

"LOL" para o ponto 1. deste artigo acompanhado por um comentário de outra formiga "parecem os discursos do Jerónimo e depois tens a realidade" - sábias palavras.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Para Heterossexuais, com amor.



Ontem vi este vídeo pela primeira vez. Depois das associações automáticas ao filme Brokeback Mountain esperei ansiosa pelo desenrolar da história até ter chegado ao fim e ter percebido que é só mais um.
Só mais um produto que aborda o flirt, engate, paixão, amor, interesse ente duas pessoas do mesmo sexo, feito à medida de mentes rodeadas de barreiras. Só mais um produto homofóbico mascarado de pro-liberdade e igualdade.

Quantas vezes, no cinema e na televisão, vemos relações entre pessoas do mesmo sexo cujas manifestações de carinho e amor passam apenas por abraços, olhares e festinhas nas mãos?
Para mim, a homossexualidade foi "abordada" pela primeira vez na televisão nos finais dos anos 90 numa novela brasileira em que as actrizes Silvia Pfiefer e Christiane Torloni eram um casal. Apercebi-me que eram um casal porque vinha escrito na revista Maria, que a minha irmã compra até hoje religiosamente, na parte dos resumos das novelas.
Mais tarde, em "Mulheres apaixonadas", outro casal, desta vez mais jovem (peço desculpa, só me lembro dos casais XX) tinha já a particularidade de proporcionar ao tele-espectador abraços de mais de 3 segundos (palmas!) e no ar, entre amigos, rondar a suspeita de que seriam um casal (palmas outra vez). Um pouco mais tarde, em "Senhora do Destino" outro casal de jovens mulheres homossexuais protagonizou uma cena que gerou alguma polémica no Brasil, levando mesmo à decisão de cortar uma parte. A cena passava por duas mulheres na cama, a dormirem, com algumas partes do corpo descobertas. Um bocado porno, portanto.
Por Portugal o assunto também vai sendo abordado com alguma, não delicadeza mas leveza, quase medo.
O mesmo se passa no cinema mainstream e não há muito tempo Inês Pedrosa cronicou na Única (ver aqui) a mesma indignação em relação à maneira como é tratada a relação entre pessoas do mesmo sexo.

Agora pegando em todos estes exemplos e substituindo uma das partes pelo sexo oposto, as histórias seriam tratadas da mesma maneira? Claro que não!

Não querendo destruir os padrões de uma sociedade heterossexista e machista, que se auto-proclama diversificada e tolerante - em que a tolerância passa apenas por tolerar a existência de orientações sexuais diferentes, ponto - ensina-se que quem é "diferente" tem de se ir expressar para longe das vistas públicas.
Quando é para arranjar bode expiatório, não há problema em trazer para a praça pública a sexualidade de pessoas homossexuais, criticar negativamente, reprimir, humilhar, etc. Quando é para mostrar que estamos todo/as muito à vontade, há empenho em construir a imagem destes seres quase assexuados ou cujo dever é conter os seus comportamentos publicamente. E assim tem sido aceite, sem grandes contestações, para não ferir susceptibilidades nem destruir os sonhos de contos de fadas.

Porque um beijo entre o casal de "Mulheres Apaixonadas" seria algo repugnante pela ideia de que o acto pudesse fazer parte das suas rotinas mas a personagem da Lady Gaga, num dos seus vídeos, com a língua enfiada na boca de outra já é uma coisa engraçada. Porque pode? Não! Porque não é homossexual! Eles excitam-se elas acham-na uma "ganda maluca". E assim pode-se levar a vidinha bonitinha.

Parem de mandar as pessoas para o armário, se faz favor?
Obrigada.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Curiosidades sobre o Natal #2

São Nicolau, promovido a Pai Natal.

Resumidamente, São Nicolau era um bispo da Ásia Menor, actual Turquia. Era conhecido como o protector de marinheiros e crianças e ainda pela sua generosidade em dar prendas aos mais necessitados, deixando-as junto das chaminés.
Diz-se que São Nicolau tinha barba branca, a sua mitra (o chapéu de bispo) era vermelha, como o resto da indumentária e viajava de burro.
No dia 6 de Dezembro celebrava-se o dia de São Nicolau e a celebração passava por, lá está, dar prendas.

Depois da reforma protestante passou-se a associar as prendas ao nascimento de Jesus, como sendo mais um forma de celebração da data e São Nicolau foi caindo no esquecimento em alguns países da Europa. No entanto a sua lenda prevaleceu em França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e foi da Holanda que foi levada à Nova Amesterdão (actual Nova Iorque) para sofrer as transformações que hoje conhecemos, depois da Coca-cola ser ter apoderado da sua imagem.

Recuperada a imagem de São Nicolau como dador de prendas e protector das criancinhas, promovido a Pai Natal, ficou directamente associado ao Natal (pois as prendas já se distribuíam aquando do nascimento de Jesus) e a sua lenda e figura variam conforme o país e mesmo dentro do próprio país.
Por exemplo, em algumas localidades do norte de França as crianças, ao invés de deixarem o copo de leite e bolachas como conhecemos da tradição americana, deixam um copo de vinho, para aquecer, e uma cenoura, para o burro.

O homem das barbas brancas que vive no Polo Norte ou na Lapónia ou na Finlândia, alegre e de face rosada que viaja pelo mundo de trenó puxado por renas a distribuir prendinhas às crianças é um ex-bispo, cujo o seu dia foi retirado do calendário romano por falta de documentação sobre o mesmo, nascido na Turquia, magro e de face vermelha "cor de vinho", que viajava de burro para deixar prendas (moedas) aos mais desfavorecidos, cuja lenda e imagem ficaram involuntariamente ao serviço de interesses religiosos e do capitalismo, suprimindo-se a mais importante característica de São Nicolau: Ajudar.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Curiosidades sobre o Natal #1

No dia 25 de Dezembro os romanos, ainda não convertidos ao cristianismo, celebravam o Nascimento do Deus Sol - Brumália.

Sendo que esta festa pagã estava demasiada enraizada para ser apagada pelos cristãos e não havendo referências ao nascimento de Jesus (há quem defenda que foi em Setembro), fizeram-se os devidos ajustes dos interesses cristãos à data da festividade para que se fosse abafando e esquecendo as verdadeiras origens das celebrações da quadra. Bonito!

mais informações aqui

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Regresso a casa

Os dias de viagem são sempre uma incógnita, nunca se sabe o que pode sair dali. Talvez por isso sejam os dias do ano em que ando sempre com tudo o que possa ser lido, na mochila. As viagens do Natal são sempre as piores. Muita turbulência, dificuldades em descolar e aterrar, atrasos, pessoas histéricas a cada sacudidela que leva o avião "ai jesuuus!", entre outros.
Hoje aproveitei a viagem para finalmente ler a entrevista com a Ministra da Cultura (dizem as más línguas que é minha conterrânea) sobre os cortes e projectos para 2011. Entrevista essa que guardarei religiosamente para reler no final do próximo ano. Algures no JL deparei-me com um artigo onde constava uma outra especulação, que desconhecia, sobre a origem do nome dado ao arquipélago dos Açores, arquipélago este onde há tudo menos Açores. Desta vez, com origem italiana. Lembrei-me então que a revista da SATA, que não é mais do que tentativas de vender destinos, costuma ter, volta e meia, alguma coisa sobre cultura açoriana com o objectivo, lá está, de vender os Açores como destino. A mim não me conseguem vender, pois já nasci com ele no sangue.
Havia (sim, havia porque agora já não há) um artigo sobre Canto da Maia.
Que sabia eu sobre ele? Para além de ter uma escola com o seu nome e ter sido um dos maiores escultores portugueses da sua época, não sabia mais nada. A cada linha lida a minha curiosidade sobre a sua obra e vida iam aumentando e ia-me chicoteado por dentro por nunca ter perdido tempo para saber quem foi esse homem, afinal tão grande. O orgulho ao pensar que cresci pisando o mesmo solo que ele, e d'outras almas inquietas, foi crescendo até ao ponto em que descubro que é ele o autor do busto do Antero no memorial no "Jardim do Anthero" e aí explodi de orgulho (e roubei as páginas da revista!).
Depois ler sobre Teófilo Braga já não me pareceu tão interessante.

A viagem ainda não tinha terminado e o avião continuava dentro de um shake. Eu sem mais nada para me entreter (mentira que tinha um livro sobre Património Cultural), reparei que a pessoa sentada ao meu lado tinha um revista e quando ia perguntar se me emprestava dei conta de se tratar da TvMais. Então achei que podia resumir a leitura da dita perguntando a que festas foram o Cláudio Ramos e a Cinha Jardim na semana passada enquanto fazia uso do sick bag - atenção, esta parte só aconteceu na minha cabeça, com intensidade.

Ao pousar terra firme (se bem que usar esta expressão em relação a uma terra que treme todos os dias soa um tanto desadequado) depois das dificuldades de sempre encontrei alguém, como é hábito, que não via há tempos e depois dos cumprimentos-praxe (não praxolas) teceu o seguinte comentário: "epá, estás outra vez com o cabelo à George Harrison".
E assim, em duas horas e meia, com uma descoberta e uma comparação, se enche uma alma de satisfação.

(o facto da bagagem não ter vindo, até agora, fica para contar depois quando a história chegar ao fim)