domingo, 2 de janeiro de 2011

Crise? Qual Crise?



Acabamos o ano a falar de cortes. Corta no salário, corta na bolsa de estudo, corta na saúde, corta na educação, corta da cultura, corta nos subsídios, nos apoios, nisto e naquilo. Começamos o ano a falar de aumentos. Aumento do pão, do combustível, do IVA, dos transportes, das portagens, disto e daquilo. Aumenta tudo, excepto o que é para cortar. Que bonito, Portugal, sim senhor!

A comunicação social sente-se no dever de alertar os portugueses e portuguesas de como será dificil o ano que agora começou. É então que decide fazer (mais uma!) a bela da reportagem, sobre uma familia que vai ver os seus salários reduzidos. Família, atenção, tradicional, que as outras ainda não são para se mostrar.
Então como será o ano dificil da família tradicional que terá os rendimentos reduzidos?
Angustiada, a mãe explica que terá de tirar os miudos do colégio e po-los numa escola pública. Que já não poderão ter mais que uma actividade extra-curricular e que, por mais que lhe custe, terá de deixar de ir todas as semanas ao cabeleireiro, entre outros luxos e futilidades de quem se acostumou a viver acima das possibilidades do país.

Expostas estas dificuldades pelas quais o povo português irá passar, ninguém diria que estamos em crise, ou que na verdade não conseguimos sair dela há 800 anos.
Ninguém diria que se calhar há quem tenha de tirar os filhos não do colégio privado mas da escola, ponto. Nem que, já exista, quem tenha de desistir de estudar, de todo.
Ninguém diria que há quem tenha de contar trocos no fim do mês para pagar a conta da luz ou quem nunca tenha tido acesso a alguma actividade extra-curricular, não gratuita. Ninguém diria que possa haver (como eu) quem corte o cabelo em casa ou quem (sobre)viva com 500 euros por mês, e todas aquelas outras coisas que já sabemos e se não sabemos já, vamos senti-las e saber em breve.

Mais uma "reportagem-afronta" onde se percebe que a pobreza maior, que assola o país, é mesmo a de espírito.

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