domingo, 26 de dezembro de 2010

Para Heterossexuais, com amor.



Ontem vi este vídeo pela primeira vez. Depois das associações automáticas ao filme Brokeback Mountain esperei ansiosa pelo desenrolar da história até ter chegado ao fim e ter percebido que é só mais um.
Só mais um produto que aborda o flirt, engate, paixão, amor, interesse ente duas pessoas do mesmo sexo, feito à medida de mentes rodeadas de barreiras. Só mais um produto homofóbico mascarado de pro-liberdade e igualdade.

Quantas vezes, no cinema e na televisão, vemos relações entre pessoas do mesmo sexo cujas manifestações de carinho e amor passam apenas por abraços, olhares e festinhas nas mãos?
Para mim, a homossexualidade foi "abordada" pela primeira vez na televisão nos finais dos anos 90 numa novela brasileira em que as actrizes Silvia Pfiefer e Christiane Torloni eram um casal. Apercebi-me que eram um casal porque vinha escrito na revista Maria, que a minha irmã compra até hoje religiosamente, na parte dos resumos das novelas.
Mais tarde, em "Mulheres apaixonadas", outro casal, desta vez mais jovem (peço desculpa, só me lembro dos casais XX) tinha já a particularidade de proporcionar ao tele-espectador abraços de mais de 3 segundos (palmas!) e no ar, entre amigos, rondar a suspeita de que seriam um casal (palmas outra vez). Um pouco mais tarde, em "Senhora do Destino" outro casal de jovens mulheres homossexuais protagonizou uma cena que gerou alguma polémica no Brasil, levando mesmo à decisão de cortar uma parte. A cena passava por duas mulheres na cama, a dormirem, com algumas partes do corpo descobertas. Um bocado porno, portanto.
Por Portugal o assunto também vai sendo abordado com alguma, não delicadeza mas leveza, quase medo.
O mesmo se passa no cinema mainstream e não há muito tempo Inês Pedrosa cronicou na Única (ver aqui) a mesma indignação em relação à maneira como é tratada a relação entre pessoas do mesmo sexo.

Agora pegando em todos estes exemplos e substituindo uma das partes pelo sexo oposto, as histórias seriam tratadas da mesma maneira? Claro que não!

Não querendo destruir os padrões de uma sociedade heterossexista e machista, que se auto-proclama diversificada e tolerante - em que a tolerância passa apenas por tolerar a existência de orientações sexuais diferentes, ponto - ensina-se que quem é "diferente" tem de se ir expressar para longe das vistas públicas.
Quando é para arranjar bode expiatório, não há problema em trazer para a praça pública a sexualidade de pessoas homossexuais, criticar negativamente, reprimir, humilhar, etc. Quando é para mostrar que estamos todo/as muito à vontade, há empenho em construir a imagem destes seres quase assexuados ou cujo dever é conter os seus comportamentos publicamente. E assim tem sido aceite, sem grandes contestações, para não ferir susceptibilidades nem destruir os sonhos de contos de fadas.

Porque um beijo entre o casal de "Mulheres Apaixonadas" seria algo repugnante pela ideia de que o acto pudesse fazer parte das suas rotinas mas a personagem da Lady Gaga, num dos seus vídeos, com a língua enfiada na boca de outra já é uma coisa engraçada. Porque pode? Não! Porque não é homossexual! Eles excitam-se elas acham-na uma "ganda maluca". E assim pode-se levar a vidinha bonitinha.

Parem de mandar as pessoas para o armário, se faz favor?
Obrigada.

Sem comentários:

Enviar um comentário