sábado, 8 de janeiro de 2011

Acredito que o estado de tristeza moderado e um plano de leitura pessoal pode contribuir muito para um crescimento e sobretudo para conhecer e realmente ser leitor de muitos livros considerados por aquelas edições stressantes( 1001 livros/ filmes que tem que...antes de morrer)incontornáveis. A tentar reler o "Noites brancas" apercebi-me que o meu estado de alegria ou pelo menos "não tristeza" não se coadunava com aquilo que já me fez tanto sentido. Ipsis verbis para o "livro do desassossego" e para tantos outros. Isto corrobora a ideia de que tal como o humor influencia cognições a ele adequadas, também nos orienta a procurar algo que sublime ou pelo menos conforte a tristeza ou os estados mais "negativos". Por outro lado, também me faz pensar acerca dos níveis de análise que se tem de acordo com as experiências objectivas e subjectivas. Será possível entender e empatizar com um livro ou poema se não se tiver sentido pelo menos um pouco daquilo que é expresso? A voz do escritor nunca toca da mesma forma, mas será que não há pontos nucleares que desperta em todos de forma similar? Fico sempre um pouco céptica quando ouço alguém cuja análise geral das coisas é a meu ver bastante superficial a dizer que " fernando pessoa ou florbela espanca são brutais", mas talvez esse pseudo elitismo decorra de em alturas de tristeza ter sentido aquela coisa pueril de "isto que está escrito tem mesmo a ver com o que sinto, é mesmo para mim", sendo portanto único, pessoal e intransmissível quando na realidade não o é. Já tive envolvida em muitas conversas sobre livros, muitas delas carregadas de algum snobismo que a minha paixão por alguns autores não me deixou ver o quão pseudo estava a ser a conversa, como se gostar de X ou Y autor fosse um aspecto identitário tão forte como o carácter ou a personalidade. Como tudo, são gostos que podem aproximar as pessoas numa conversa, criar afinidades mas não criar uma comunhão digna de clube de leitura de jane austen":) Na mesma linha de pensamento é por vezes angustiante ver críticas de livros tão faustosas e impenetráveis que tem o efeito contraproducente de não instigar a leitura. Isto tudo para dizer que cada vez mais olho para os livros como algo pessoal, para recomendar ou serem recomendados e cativar a cada um de uma forma especial e distinta, bastando um" gostei muito" pois se repararmos (o bookaminute dá uma ajuda a esta conclusão:)o enredo de um romance pode ser resumido em poucas linhas, sendo a forma como é contada a história que prende e isso é complexo de discutir.

1 comentário:

  1. O mesmo em relação à música. Procuras aquela que se traduz num espelho da tua "não-alegria", que muitas vezes não sabes que a tens. Depois o "não" desaparece, fica só a "alegria" ou a normalidade, voltas a ouvir o que ouvias antes, já só não não faz sentido como já nem queres voltar ouvir.

    ResponderEliminar