sábado, 18 de dezembro de 2010

Bullies e Sádicos

Faz alguns dias que parei para pensar no que poderá estar por detrás de comportamentos "bullies" e sádicos. Não sendo o comportamento humano uma área do meu conhecimento, e/ou interesse, não consegui chegar à parte da resposta.

Todos/as nós fomos crianças (ao contrário da Eunice Muñoz que, segundo a Teresa, nasceu já com setenta anos) e por uma vez ou outra fomos vitimas de comportamentos menos simpáticos de "criancinhas cruéis" que nos causaram angústia, medo, tristeza, humilhação, ansiedade e outros dispensáveis. Claro que não se passa só na infância e prova de viva até pode ser eu mesma que não tenho memória de ter vivido qualquer situação do género antes dos 28 anos, ainda que, tendo sido um caso isolado despertou a minha atenção para o assunto e fez-me perceber que, como sociedade, permitimos que aconteça muitas vezes sem repreensão.

O Bullying, segundo o meu pouco entendimento sobre o assunto, é o acto de oferecer gratuitamente violência física e/ou psicológica repetidamente, intimidando, ameaçando, provocando, humilhando, agredindo, etc, indivíduos aparentemente mais vulneráveis do que o bully
O Sadismo [aqui não de teor sexual], também segundo o meu conceito, passa pelo prazer, satisfação, quase alegria em ver, provocar ou saber sobre a desgraça ou sofrimento alheio.

Posto isto, a linha que separa os dois conceitos, a mim, parece-me relativamente ténue pois um pode completar o outro. Por exemplo? Peguemos no caso das touradas [assunto a abordar posteriormente] para exemplificar: o touro (a vitima) é provocado, humilhado, agredido fisicamente pelo toureiro (bully/sádico) enquanto ao público (sádico) agrada-lhe toda a situação.
Outro exemplo, com as criancinhas/adolescentes: a nerd da escola (vitima), de aparelho, trança, óculos e sapatos rotos, enquanto come a sua sandes gordurosa mas ainda assim não engorda, irrita a pop star (bully) que para alcançar a aparência desejada é privada de tudo o que a nerd pode ingerir. Assim decide humilha-la perante toda a escola, desta vez, fazendo referências à sua aparência "não pop star" enquanto os "kens" (sádicos) riem-se como se riram no dia anterior e na semana antes.
A violência doméstica física e psicológica.
Ou mais comum e menos espalhafatoso é adoptar algum tipo de comportamento implícito ou explicito com o intuito de angustiar, humilhar ou fazer sofrer alguém, com low ou high profile. Mudam-se as vias e o nome mas as emoções e sentimentos provocados na vitima são os mesmos.

No meio disto tudo aparece a minha primeira questão. Quem não ficou com o papel de vitima, bully ou sádico tem um papel absolutamente neutro ou a sua passividade, inércia e indiferença ["estou-me a borrifar"] e cobardia ["não me quero meter para não sobrar para mim, para não ficar mal"] acabam por ser factores de permissão e validação deste actos? Bom, se calhar sou só eu a questionar sempre o papel da sociedade em relação a tudo o que acontece na mesma.

Na verdade a minha grande intriga é mesmo tentar perceber o que leva qualquer pessoa a provocar deliberadamente sofrimento, em todas as suas vertentes, a outra pessoa retirando daí alguma satisfação pessoal.
Ou melhor, o que faz com que seja possível sentir satisfação com a dor de terceiros?
Insegurança? Complexo de inferioridade? Complexo de superioridade? Querer parecer o que se gostava de ser? É apenas uma característica, como quem é homossexual?
Ou uma parafilia, como quem é pedófilo/a ou violador/a, que "pode" ser curável e punível? Explica-se?
Tanta pergunta para tão pouca resposta.

2 comentários:

  1. Cassilda, há um livro muito bom que te vai elucidar sobre todas essas questões :)

    Chama-se "Sade-Masoch" e é de um autor chamado Gilles Deleuze. É difícil de encontrar, mas é a resposta ao post na íntegra ;)

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  2. o que irrita é a vaga de pessoas que vêm falar com todo o seu conhecimento teórico do assunto justificado pelo cognome de "especialista"( tendo em conta que não é a área de termodinâmica mas sim de ciencias sociais tem vindo a ser um pouco desacreditado, sobretudo quando aparece aquela pedopsiquiatra que vai a tvi ou alguns psicólogos que quando falam uma pessoa pensa" humm, ok, isso não é basicamente o que foi dito até agora mas por outras palavras técnicas/ sumptuosas wanabe?)apenas durante o rescaldo de uma noticia grave, sendo que o assunto cai no esquecimento. Há muitos estudos sobre isso, a Psicologia tem de facto contribuido em muito para perceber e até intervir em algo que sempre aconteceu e que apenas foi mudando os contornos. Para lá da revolta fica ,a meu ver, a necessidade de em caso de falhar a prevenção( a cargo dos vários educadores, família, escolas..)fazer-se algo por minimizar os efeitos sentidos. Na lógica "vitima- agressor", que é um pouco redutora é importante intervir em ambos os lados, até porque o dito "agressor" que revolta e irrita também pode alterar o seu comportamento e não tomar "mais vitimas" pelo caminho. E entretanto vem a ideia" discurso de psicologia", o que é certo é que não sendo a vida um filme da disney ou "o bom, o mau e o vilão", gosto de ver quando as pessoas que não foram sensibilizadas para o assunto( ou seja, gramar com carradas de bibliografia) chegam lá por elas ou pelo menos reflectem sobre isso( conversa com cass, 16. 20h do dia 20).

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